sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Sobre o silêncio



A gente precisa fazer alguma coisa! Não é possível que a gente não vai fazer nada!! – Bradava o Furo enquanto o resto da sala o assistia, atônitos. Eram 14:30 de uma terça-feira ensolarada. O Traço do birô à frente travara os dentes e mordiscava os lábios, balançando a cabeça negativamente. A Mancha deslocava o queixo para o lado, inclinava a cabeça e batia com o lápis na mesa com expressão energicamente desencorajadora. O Sinal de alerta, decano da sala, nitidamente sentindo-se culpado, baixou a cabeça e suspirou, em solidariedade ao amigo. Enfim, Furo precebeu que não estava só no descontentamento, mas sim no ânimo, nas esperanças. Cada um iria fatalmente cuidar de sua vida, até que ela se esgotasse.

O que nos incomoda no nosso mundo? A mim incomoda o que é consensualmente errado e não é corrigido. Incomoda o que é nitidamente possível, provavelmente muito positivo, mas por ter um custo qualquer, é ligeiramente descartado. Alguns temas merecem algumas linhas:

1. O começo de tudo passa pela democratização de uma educação de qualidade. O que seria isto? Pessoas incentivadas a pensar, criar, criticar, pesquisar, investigar, estudar, discutir, publicar e agir de acordo com suas consciências. Acredito que isto tornaria o mundo um lugar bem mais agradável. Melhoraria o funcionamento dos poderes, a consciência ecológica, a consciência humanitária, o conhecimento científico, o uso da tecnologia, as artes, as dicussões filosóficas, as tolerâncias religiosas, as famílias, as comunidades. A nossa educação nunca foi boa, mas acho difícil ter estado pior. Os professores são muitas vezes mal preparados, desestimulados. A História do Brasil é mal contada, as ciências são mal entendidas, o português é tido como supérfluo, a matemática é mal compreendida, quase não há filosofia, as artes são uma grande enrolação, não há música, os idiomas estrangeiros nunca são minimamente aprofundados, não temos noções de sociologia, direito, primeiros socorros, vigilância sanitária, programação de computadores, astronomia. Faltam laboratórios, atividades extra-classe e até esportes. Mas o pior de tudo é que mesmo a má educação que está hoje disponível, não está disponível para todos. Na maioria das escolas públicas há uma grande enrolação, onde quase ninguém está interessado em ensinar, onde os poucos que querem aprender têm que se virar. Ao governo que baniu a reprovação, interessam os números do fluxo de alunos, não o que aprendem de fato. Os professores não são valorizados, as escolas não têm uma estrutura adequada para absorverem tantos filhos de uma sociedade marginalizada. Os pais não sabem como colaborar, atrapalham. Apequenam-se, mal lêem, se lêem. Votam e são facilmente engabelados. Inviabilizam a democracia, são idiotas cada vez mais feitos idiotas, gerando idiotas, elegendo outros idiotas mais “espertos”, que caminham, separados por um vidro blindado, para a mesma ruína.

2. A televisão, o principal veículo de comunicação atualmente, é muito mais um meio de si mesma. Em linhas gerais: as emissoras de TV são financiadas pelos produtos que anunciam, estes vendem mais quando são mais anunciados a mais gente, ou seja, a uma maior audiência. Para ter audiência cada vez maior, é necessário atrair cada vez mais gente das classes mais baixas, que é mais populosa, e que têm, por diversos motivos, uma educação péssima. Logo, há uma tendência da TV ter programas cada vez mais voltados à população mais burra. O que é facilmente notado. Para tal, pode-se apelar à violência, à putaria, às fofocas, às emoções do tipo mãe que reencontra filho, às pregações religiosas, à música fácil e por último à propria TV. Cito como exemplo o Videoshow, que só existe para divulgar os bastidores da TV, ou seja, não comunica nada, não têm qualquer função dissociada da TV. A TV cria programas sem quaisquer objetivos que não o de entreter, aparentemente não há problemas nisso, mas no fundo, temos pessoas que poderiam estar contribuindo para um mundo melhor, mas simplesmente não o fazem, não porque estejam cansadas, em suas horas de folga quando é importante um entretenimento, mas porque estão constantemente entretidas com o nada. A MTV é outra que existe porque produz músicos e bandas para que a MTV exista, e assim segue. O apelo à imagem é o que vende, seja a imagem do que for. Obviamente temos também telespectadores da classe alta, que interessam às TVs porque possuem poder aquisitivo alto e compram o que é anunciado, sobretudo carros e uísques. Estes, por não poderem ser tão idiotas, são ainda o que fazem com que existam telejornais com notícias sobre política, economia, ciência etc. Qualquer outro meio de comunicação, seja jornal, revista, rádio ou internet, atingem bem menos gente, e, ainda assim, talvez em menor escala, a depender do público alvo, obedecem aos mesmos príncípios que a TV. Isto não está certo.

3. Tudo o que é mais abstrato, artes, filosofias, matemática é antipático. E não só é antipático à massa burra que não sabe ler, que não sabe o que é ler um livro, que não teve acesso a uma educação melhor. Tente falar de um filósofo em uma mesa entre amigos... Tá, não sejamos chatos, tentemos presentear um amigo com um livro de filosofia... Dê-lhe três anos, e depois veja o quanto ele leu. Levante um comentário sobre a segunda lei da termodinâmica, mesmo com uma linguagem simplória, com qualquer colega de trabalho. Não exagere, fale sobre um pianista, um compositor clássico, um pintor... Você será certamente percebido como metido, louco ou gênio (logo, louco também). Matemática, Lógica, Estatística fudeu!!! Excetuando-se o caso de dois estudiosos de exatas conversando em um recinto apropriado...Isto não é conversa. Você não faz parte deste mundo, ou precisa de um médico psiquiatra. Isto é uma merda... Ninguém tolera nem um pouco nada que dê um trabalhinho pra pensar, sentir, perceber... tudo tem que ser automaticamente rizível ou chorável, dançante, entorpecente, lucrativo, tem que estar na moda ou na “boca do povo”. Ser intelectual significa ser ininteligível, elitista, desgarrado da realidade, incapaz de se divertir como uma pessoa normal. O adjetivo “intelectualizado” muitas vezes pode ser traduzido como maçante, pedante, chato ou prolixo, e além do mais, totalmente inútil. Um papo, um filme, um programa “cabeça” é uma coisa que algumas poucas pessoas “normais” podem tolerar, se, e somente se, a freqüência seja, digamos, 60 vezes menor que a freqüência de papos, filmes e programas “não-cabeça”. Isto não é muito bom também... sobretudo nas classes mais altas, que tiveram melhor educação. Penso que deveriam gostar da educação que tiveram, deveriam explorá-la, valorizá-la, apreciá-la, afinal, são privilegiados os que tiveram uma formação suficiente para adentrar no mundo dos assuntos menos superficiais, diretos e objetivos.

4. Toda crítica é levada para o lado pessoal – Não se pode corrigir o portugüês de ninguém sem soar desagradável. No trabalho, se você repreende é poque quer fuder alguém. Dizer que a roupa de alguém é feia é dizer que quer que a pessoa vá se fuder. Algumas vezes o simples fato de discordar pode fazer com que alguns laços interpessoais sejam quebrados. Não falo de valores realmente relevantes, mas de opiniões que devem mesmo ser divergentes... muito cuidado, porque criticar é um ato de ódio.... Se um professor chega a um aluno e diz que o seu trabalho não está satisfatório, provavelmente será interpretado como “ele não gosta de mim”, “ele quer botar pra fuder em mim”, e por aí vai. Falar que Lula faz merda significa que você é de direita, falar que FHC fez merda significa que você é de esquerda... não existe perdão para a crítica. Toda e qualquer crítica será elevada à sua máxima potência. Conseqüência disto: temos que ser ultra-tolerantes com tudo e com todos que não queremos afastar. Temos que tolerar os erros de portugüês do colega, a falta de educação do vizinho, a ignorância do chefe, o fedor, o mau-gosto, a lerdeza, a frescura, a “sem vergonhice”, a cara-de-pau, a desonestidade... tudo. Se gostamos de alguém ou algo e não queremos acabar com a relação, criar inimizades, temos que ser tolerantes. Isto é uma merda.

5. O relativismo faz tudo eqüivaler, quando as coisas não são bem assim. O relativismo cultural não pode servir de pretexto para que uma tribo, grupo ou civilização saia tolhendo o direito à educação ou à informação das pessoas. Nenhuma dor deveria ser compulsória a ninguém, a não ser em casos de saúde (vacinas, cirurgias em bebês, etc.). Não deveríamos legitimar a violência por que “fazem parte de uma outra cultura diferente e respeitar”, o mesmo se aplica aos danos ambientais. Tampouco deveríamos pôr numa mesma balança pessoas que mostram argumentos racionais, pautados em evidências e deduções lógicas e pessoas que tomam atitudes baseadas em crenças, tradições, revelações ou deliberações. A racionalidade e a lógica são universais. Até mesmo por achar que devemos respeitar todos os credos e todas as crenças, a tomada de decisões no que diz respeito à sociedade, às crianças, ao público, não devem ser baseadas nestas intituições, pois neste âmbito, cada um pode ter sua verdade... entre si, sim, há uma certa relativização. Mas a mesma não existe quando tomamos evidências e argumentos racionais. Vi um filósofo falando da relativização entre física quântica e espiritualismo, já que ambos falam sobre o invisível, por vezes até sobre o imaterial... Não, não equivalem. Enquanto a primeira vem de uma evolução racional, baseadas em experimentos, previsões estatisticamente acertadas e modelagem, não afirma mais do que pode afirmar, além de estar constantemente sendo passível de refutação... o segundo não é capaz de fazer uma previsão, não possui uma evidência aceitável, não suporta um teste estatístico qualquer... Também não acho que sociedades que respeitam os direitos humanos, que permitem a liberdade de expressão e de pensamento, de credo, e que pregue uma igualdade entre os indivíduos, não só perante a lei, mas também perante o acesso aos bens públicos, equivalham a sociedades que sobrevivem pelo uso do medo, da força, da religião, não dando aos indivíduos a liberdade de pensarem diferente, de se expressarem, de terem acesso à informação. Simplesmente não equivalem, não há relativismo cultural que me convença.

6. A sociedade organiza-se de modo a fazer com que tudo continue assim... Precisamos de no mínimo 8:00 de trabalho + atividades físicas + lazer + família. Parace que só será possível a alguém realizar um gesto realmente significativo para o mundo, se arriscar o seu bem-estar, se abdicar de seu físico, lazer, trabalho ou família. O pior é que as chances de um grande esforço dar em nada paracem ser grandes. Sim, sempre há a historinha do beija-flor que ao cuspir na chama da floresta está fazendo sua parte. Mas se cada um que doa uma hora por semana, um real por dia, ou sinmplesmente paga os impostos, achar que assim iremos mudar alguma coisa... bem, eu acho que não faz nem cócegas nos problemas sociais que enfrentamos. Minha impressão é de que se não há gente se esforçando mesmo, pra mudar alguma coisa, não veremos um mundo substancialmente melhor, nem nossos filhos ou netos. A nossa democracia está obnubilada, as desigualdades, a ignorância, a violência não dão o menor sinal de melhora. Esperaremos os governos? Há o que ser feito? Quem? Como? Quando? Será que nós, os educados, não deveríamos tomar a frentee e pelo menos sinalizar um interesse em discutir este asunto? Será que organizar ao menos uma discussão para saber se estamos fazendo a coisa certa seria tão trabalhoso que não valeria a pena? Parece-me que não.

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Lapso de uma falta perene

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Hoje eu quis muito um colo
Um colo isento, quieto, calado
Que nada de mim esperasse, que em nada de mim dependesse
Não me tivesse como um peso, nem como uma esperança
Não me tivesse como uma previdência, uma poupança
Um colo singelo, que não me julgasse magro ou gordo
Um colo que não emitisse recibos, nem me enviasse contra-cheques
Que não me tivesse como ídolo, como exemplo bom ou mau
Quis apenas um colo, pra desabar meu cansaço, derramar minhas lástimas, ficar calado ao pensar, encostar e tentar parar
Que não me quisesse de bom humor, um colo assexuado, parado, sem cobranças, sem receios
Que me entendesse, minhas falhas, minha miséria
Que não me pedisse equilíbrio, deixasse-me em paz ali
Não tentasse me culpar ou absolver, apenas me aceitasse como alguém que precisa de colo
Um colo como pano de fundo pra minha dor, minhas reflexões, confusões, desesperos

Foi tudo o que eu quis, este colo
E tentei em vão dar colo pra mim,
E cansei, e chorei, e só, restei-me aqui.

terça-feira, 20 de abril de 2004

A Boring Explanation About a Behavior

Nós humanos percebemos padrões, eles existem para nós, e quando reconhecemos que algo se encaixa num determinado tipo de comportamento que já nos foi apresentado, podemos criar expectativas e por vezes fazer previsões com acerto acerca daquilo. Os processos cíclicos nos rodeiam, a luz, o som, os dias e noites, as batidas do coração e inúmeros outros fenômenos podem ser assim classificados, uns com certa obviedade, outros com uma atenção maior, com uma percepção um pouco mais aguçada.

Também outros comportamentos, que não o dos processos periódicos, podem ser verificados em muitas situações. A causalidade das coisas, o par ação-reação também gera um padrão que se mostra presente em tudo quanto é canto. A atração dos opostos e a repulsão dos semelhantes é coisa que pode ser vista como um padrão, pois há coisas que são complementares e tornam-se mais estáveis juntas. A tendência das coisas irem sempre para sua posição de menor energia, de se desorganizarem se deixadas ao léu.

São muitos os padrões dispostos na natureza, e se aplicam às relações humanas com freqüência. Com freqüência homem e mulher se complementam, a sociedade sem regras tende ao caos, uma queda na bolsa de Taiwan arrasa a economia argentina, as tendências da moda vão e voltam em ciclos regulares e assim por diante. A sociedade possui diversos padrões interessantes.

Água e óleo não se misturam, isto porque uma possui as moléculas bem polares, ou seja, possui um lado bem positivo e outro bem negativo, e o outro não, possui moléculas que são mais ou menos neutras em todas as partes. Assim estas duas substâncias não conseguem juntar-se, não conseguem unir-se para formar um outro composto, tendem sempre a separar-se. A água dissolve tudo o que é polar, e o óleo tudo o que é apolar, daí a máxima “Semelhante dissolve semelhante”. Isto pode ser visto também como um padrão, repete-se para coisas e pessoas.

Esta introdução serve apenas pra dizer que é perceptível uma analogia do humor com a água. É mais fácil interagir com pessoas de humor semelhante. Fazendo uma forcinha dá pra perceber o que é água e o que óleo. E dentre as águas (os óleos), há as (os) mais ou menos oleosas (aquosos).

Isto se aplica à música, às pessoas, aos filmes. Já tive fases muito oleosas, interagia com petróleo, banha e rícino. Hoje sinto-me bem mais aquoso, me agradam sucos, seivas, sangues e água. Não há nada contra as moléculas polares ou apolares, simplesmente não conseguem interagir, misturar-se. É inútil insistir.

Há ainda as combustões, catalizadores e o tempo, que podem alterar a disposições das cargas intramoleculares.

sexta-feira, 16 de abril de 2004

If You Are Feeling Sinister

Estava andando pela calçada mesmo, nem pela rua era, aí pronto! O primeiro saci apareceu. Depois, numa conversa com minha sogra, estava distraidamente descrevendo um sítio e de repente, outro saci.

É assim a natureza daqueles escrotos. Os putos aparecem sempre do nada, e, mesmo pernetas, mesmo franzinos e fumando aquela mariquinha ridícula, conseguem perturbar e desconsertar até um Lama. Definitivamente quanto menos sacis na vida de alguém, melhor. Mas não há muito o que fazer quando aparecem, não adianta caçá-los, não adianta nada. Nem se deve deixar-se irritar, o que é muitas vezes inevitável.

A melhor coisa a fazer quando um saci aparece é ignorá-lo, fingir que não o viu, ou então ironicamente chamar a atenção de quem estiver perto para aqueles sujeitinhos tão deploráveis, penetras do cotidiano, fingindo que eles não incomodam tanto.

Não...Não há simpatia nem oração pra acabar com saci.
Há a força do pensamento, poder da fé, astral, energia, humor e por aí vai... Se alguma destas coisas fizer sentido, tudo o fará, por conseguinte.

Pros mais céticos, meu conselho é não dar-lhes muita atenção, deixá-los darem umas belas baforadas, uns pinotes e umas gargalhadas bem à vontade, depois eles cansam e vão embora, e aí é torcer pra que não deixem pegadas em lugares muito notáveis, pois como se sabe, por jogarem todo o peso do corpo em um só pé, e ainda ficarem pulando, suas pegadas são quase sempre marcantes.

Já para quem sofre de ataques crônicos de sacis, o melhor é esperar. Especialistas dizem que sempre há entressafras, tréguas, até mesmo pela isenção do acaso, que afeta também os sacis.

Agora, se você vive vendo sacis a todo instante e mesmo assim não fica irritado, se sua auto-estima não se abala quando eles ficam fumando ao seu redor, se suas pegadas nunca tocam algo de importância. Suicide-se! Pois você também é um saci, e seus espelhos estão traindo-o.

Chapation quote:

"Uma nova língua é como um reflorestamento mundial de pessoas!"

quarta-feira, 17 de março de 2004

Sentir II



Sentir-se bem por poder
e medo de deixar
Perceber que não sabe
e que não há o que saber, é só ser
E já se é, só por sentir.

Contemplar-se sentindo, e bem com isto
sem poder expressar em palavras
Em atos falhos, impotente diante de tantos.

Sentir que o tempo passou,
e no emaranhado de chances e escolhas
o efeito não a fez melhor.
Conseguir então identificar num turbilhão interno,
que há palavras para dois sentimentos muito presentes:
amor e medo.

{Insira um titulo aqui...}



Esta é uma carta para a velhice
É uma carta para mim
Para se rir ou chorar
Agora ou depois
É para parar um pouco
É para relembrar
É para olhar para o nada e me ver
E voltar

É sobre humildade
E sobre o que se faz do tempo
Veja, nesta carta eu sou jovem
E posso errar, posso errar!
Não tenho nada a zelar exceto você
O tempo ainda não me deu nada para cuidar
Veja, sou jovem e estou chorando
Mas, ria! Choro para que possa rir agora!
E as coisas que não pude dizer
Você as disse?
As coisas que não fiz
Você as fez?

Esta é uma carta sem retorno
Sem resposta
É para ler e guardar
E você pode brincar um pouco
E adivinhar no que estou pensando agora
Espere, uma dica: tenho lágrimas nos olhos
Mas estou sorrindo!
E meu coração está leve!
Ahh, esta carta não tem resposta
E isso é tão triste!

Não ria, mas, meu amor foi sincero?
Por favor não se zangue
Diga-me, eu fui você, ou nós nos perdemos?
Ah, eu gostaria de conhece-lo, espero poder conhece-lo
Eu queria poder estar vendo sua face agora
Queria saber se você está sorrindo
Ou se chora como eu choro
Se foi por minha causa seu choro nesse longo tempo

Ah, esta poderia ser uma carta alegre
E pode ser de fato
Mas, veja, isso tudo não é alegre?
Essa carta é para se lembrar de mim
É para lembar da família
É para lembrar de amigos
É para rir pensando nas tardes de sábado
É para sentir-se bem pensando na noite
Pensando nas vozes que você ouviu
Por favor, me diga, isso não é alegre?
Porque se não for preciso de sua ajuda!
Se não for, você deve me procurar
E me perdoar
E se tudo não passar de um momento engraçado
É um momento feliz
E se há algo de ridículo, você sabe
É da juventude

Veja! Como sou tolo!
Veja como não consigo dizer o que quero!
Essa carta é para pedir perdão! Perdoe-me!
E perdoe os outros, perdoe-os por mim!
Veja, eu te amo desde agora
Não precisa me responder
Mas, se o coração pesa
Aceite meu conselho
Escreva o que lhe resta, escreva o que não é do meu tempo
E peça perdão

Pascarujo Mijador
Janeiro/2002

terça-feira, 9 de março de 2004

Estrelando: Muchochos e Rabissacas

Apesar dos muitos estudos a despeito dos Grand-Foieurs e de seus hábitos tão peculiares, poucos foram os avanços em busca da compreensão destes seres. O mais provável é que sua razão de existência, seus objetivos e seu comportamento diante os eventos de seu habitat se dêem exatamente como o de qualquer outro ser vivo, embora alguns de seus gestos apontem divergências em relação à expectativa natural, dando margem a hipóteses mais extravagantes.
No entanto, devido ao fato dos Grand-Foieurs serem os hospedeiros naturais de diversas espécies, dentre às quais podemos citar principalmente as rabissacas e os muchochos, muito do seu comportamento se deve às influências destes, que procuram controlar ao máximo seus enigmáticos lares.
Os hóspedes dos Grand-Foieurs possuem seus conflitos internos e suas divergências políticas e culturais, no entanto, em geral, sempre juntaram forças para a preservação dos grandões, já que dependem destes para sobreviverem. Assim, em 1904, foi montado em Zurique, o comitê internacional para o progresso dos hóspedes dos Grand-Foieurs (ICPGOG – International Comitee for the Progress of Guests on Grand-Foieurs), formado inicialmente pelos muchochos e rabissacas, este comitê definiu responsabilidades para cada um de seus componentes de acordo com suas possibilidades, tendo como objetivo precípuo, a boa conservação da espécie dos Grand-Foieurs, e em segundo plano, de cada um dos espécimes.
Os muchochos, devido ao seu peso, lentidão e maior capacidade intelectual, se incubiram das atividades de Inteligência InterGrand-Foieur, das atividades de apoio ao equilíbrio emocional dos Grand-Foieurs, do Planejamento estratégico, e da administração de recursos do comitê. À comunidade das rabissacas, ficaram atribuídas as atividades de suporte à integridade física e psicológica e de apoio à perpetuação da espécie dos Grand-Foieurs. Estas duas comissões requerem quase que 80% dos recursos do comitê, ocupando praticamente todas as rabissacas.
Os muchochos têm sempre que ser bastante esforçados e tolerantes para com as rabissacas, pois estas frenéticas e apalermadas criaturinhas ficam muito agitadas e destrambelhadas ao menor sinal de medo ou possibilidade de acasalamento grand-foieuriano, tentando nestas horas conduzir o comportamento dos grandões. Nesses momentos, os muchochos vêem todos os seus trabalhos de planejamento estratégico anulados, as rabissacas desobedecem a todas as suas recomendações cautelosas, fatigando-se e desgastando-se descontroladamente. Estatísticas mostram que são nestes momentos que ocorrem os maiores danos aos Grand-Foieurs, principalmente se as rabissacas estão sob algum tipo de efeito estimulante ou entorpecente. Assim, enquanto as rabissacas não param, os muchochos torcem os dedos e fazem orações para que as ameaças aos Grand-Foieurs se cessem, ou para que o acasalamento seja bem sucedido e findado.
Quando as rabissacas baixam o facho, por cansaço, impossibilidade de acasalamentos ou ausência do medo grand-foieuriano, os muchochos podem trabalhar melhor, interferindo de maneira mais construtiva no relacionamento entre os Grand-Foieurs e possibilitando ações que, embora aparentemente desconexas, servirão para, não somente aumentar as possibilidades de acasalamento futuro e reduzir as possibilidades de agressões externas e com isso otimizar a ocupação das rabissacas, mas também para melhorar a quantidade e qualidade de recursos materiais dos Grand-Foieurs, pois como se sabe, os muchochos são muito cheios de luxos e adoram quando os Grand-Foieurs se banham no mel, se alimentam de essências raras e se submetem às sinfonias dodecafônicas.

terça-feira, 2 de março de 2004

Equilíbrio Instável



O que não é de plástico, é de vidro...
Tudo quebra, resseca, fatiga, risca, parte, funde
Resta aproveitar o sólido finito das coisas, das pessoas...
Resta aproveitar a transparência do vidro
Comemorar a flexibilidade do plástico
Evitar tensionar o vidro, aquecer o plástico

É de vidro a mente equilibrada e de plástico o corpo são e belo
É de vidro a ilusão do amor, e de plástico a transcendência da fé

O que quero, o que sinto, o que penso...
resta a dúvida, plástico ou vidro?


O primeiro parágrafo


Dedico estes escritos ao primeiro verme que deliciou-se com a carne podre, alcoólica e emaconhada do meu cadáver, se é que sobrou algum álcool ou maconha no meu corpo após ter me convertido em drugue-caixeiro-viajante, ser asqueroso, de hábitos insalubres e aspecto repugnante, com aquela carapaça negra sulcada, fixamente arqueada entre as patas esquizofrênicas, que outrora, enquanto pernas, haviam atingido o êxtase maior ao roçarem nas coxas trêmulas e inexperientes da mais bela virgem que já tive o prazer de ver padecer em meus braços, cujo sangue era viscoso perfume e gemidos eram a mais harmônica e adequada sinfonia que já foi ouvida em um ato de sublime amor.

Ça y est!
Morphotopie, blargh!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

z$%?#o.@&***



Certa vez, numa ruína de insetos que estavam putos com os tremores dos humanos que habitavam a cobertura...
A galera curtia a paz e convivia harmoniosamente quando certo dia chegou a eles o predicado...
O predicado propôs um prêmio a quem tivesse maior dedão do pé... premiou o X e saiu. Todos ficaram contentes com o fato de o predicado ter dado algo a um dos membros da galera... Porém X estava muito mais orgulhoso, afinal ele havia motivado a entrega do prêmio.
O predicado voltou novamente e desta vez propôs um prêmio a quem conseguisse fazer uma poesia com o horizonte. Desta vez Z ganhou e estava bem contente, afinal diferentemente do que acontecera com X, se ninguém soubesse fazer a poesia o prêmio não ficaria com a galera. Sua existência trazia lucros!
Dias depois chega outra vez o predicado, propõe comida farta a quem possuir mais de dois metros inclinados... P, Q e W se vangloriavam, se a existência de Z era lucrativa, a deles era muito mais...
Predicado antes de sumir vem algumas outras vezes e premia indivíduos...
Instantes depois há um grupo vaidoso que não quer dividir igualmente com os que não dão lucros... um grupo que não valoriza os premiados, mas esforça-se para chegar mais perto deles...
Um grupo de premiados que se acha melhor que o outro grupo e tenta provar isto a todo custo...
Mais três instantes irregulares e explode o excesso...

Complexo


Auto estima em 0
Amor próprio existe
Não me amo, mas me prefiro
Consciência persiste

Solidão em 0
Auto estima em pi
Consciência cadê?
Vaidade em mim
É função de você

Se você resiste
Eu recaio em mim
Se você se entrega
Solidão em pi

Coração exato é assim
Seno solidão
Auto-estima cosseno
Amor não pertence a R
Mas se C existe
Quero ser Complexo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

Dô-dôs e Grand Foieurs


Os lépidos Dô-dôs, criaturinhas tão interessantes em sua pureza juvenil, sempre que podem expõem-se à morte. Interrompem seus vôos acrobáticos e suas danças típicas para, ansiosamente, ver que estado é esse em que se encontram todos os que somem ou abandonam seus corpos e nunca mais voltam. Não conseguem ver a morte como um fim, e por isso, tentam dar fim às suas magníficas vidas. Mas não sabem se matar, não sabem o que é “matar”, não criaram este verbo, pois não faz-lhes sentido, não enxergam a morte como um verbo, muito menos como reflexivo, não compreendem a sentença “morrer-se”. Só conseguem ser passivos de morte, o que atribuem a algo conquistado. Assim, fazem da morte a conquista maior em vida.

Expõem-se à morte, por não enxergarem meio melhor de conquista-la, indo aos locais sagrados. Locais geralmente habitados pelos Grand-foieurs, seres lentos, pesadões, enigmáticos, que em geral possuem uma rotina tosca e incompreensível, mas têm o poder de trazerem sorte aos Dô-dôs, atiram sortes aos Dô-dôs. Assim os pequeninos vão a estes lugares, tentarem sumir ou simplesmente abandonar o corpo, desligando-o. O êxito não é certo, no que eles tentam entreter-se em suas esperas pelo chamado ao além, fazem isto dançando e dando cambalhotas, fazendo estrelinhas e voando alegoricamente, às vezes cantam e fazem roda, mas ficam de certo modo tensos em caso de algum evento estranho. Quando vêem um Grand-foieur ou sentem a chuva ou os cheiros, que vêm de tempos em tempos, ficam parados, fazendo apenas pequenos vôos para posicionarem-se de maneira mais eficaz. Ficam nesses momentos torcendo os dedos, torcendo para serem convidados à morte.

Em geral, são nesses momentos especiais, nesses instantes diferentes, que as mortes ocorrem. Quando os Dô-dôs mais velhos vêem os corpos dos Dô-dôs mais jovens que conseguiram morrer, ficam com certo ciúme, fazem uma auto-análise para tentar saber porque eles não mereceram a morte, e em geral acabam atribuindo suas faltas de sorte a alguns pecados de sua adolescência. Ficam meio deprimidos, mas logo tornam a dançar e fazer acrobacias, num esforço que fazem-nos contentes.
Este Blog foi criado sob influência direta do autor de pitombaverde.blogspot.com, que eu recomendo fortemente, sem que se espere algo de extraordinário. Não será posto aqui nada de genial, nada que arrancará lágrimas ou suspiros, nada com teor artí­stico ou cientí­fico e no entanto espero que não seja uma total perda de tempo.
Sds.