quarta-feira, 17 de março de 2004

Sentir II



Sentir-se bem por poder
e medo de deixar
Perceber que não sabe
e que não há o que saber, é só ser
E já se é, só por sentir.

Contemplar-se sentindo, e bem com isto
sem poder expressar em palavras
Em atos falhos, impotente diante de tantos.

Sentir que o tempo passou,
e no emaranhado de chances e escolhas
o efeito não a fez melhor.
Conseguir então identificar num turbilhão interno,
que há palavras para dois sentimentos muito presentes:
amor e medo.

{Insira um titulo aqui...}



Esta é uma carta para a velhice
É uma carta para mim
Para se rir ou chorar
Agora ou depois
É para parar um pouco
É para relembrar
É para olhar para o nada e me ver
E voltar

É sobre humildade
E sobre o que se faz do tempo
Veja, nesta carta eu sou jovem
E posso errar, posso errar!
Não tenho nada a zelar exceto você
O tempo ainda não me deu nada para cuidar
Veja, sou jovem e estou chorando
Mas, ria! Choro para que possa rir agora!
E as coisas que não pude dizer
Você as disse?
As coisas que não fiz
Você as fez?

Esta é uma carta sem retorno
Sem resposta
É para ler e guardar
E você pode brincar um pouco
E adivinhar no que estou pensando agora
Espere, uma dica: tenho lágrimas nos olhos
Mas estou sorrindo!
E meu coração está leve!
Ahh, esta carta não tem resposta
E isso é tão triste!

Não ria, mas, meu amor foi sincero?
Por favor não se zangue
Diga-me, eu fui você, ou nós nos perdemos?
Ah, eu gostaria de conhece-lo, espero poder conhece-lo
Eu queria poder estar vendo sua face agora
Queria saber se você está sorrindo
Ou se chora como eu choro
Se foi por minha causa seu choro nesse longo tempo

Ah, esta poderia ser uma carta alegre
E pode ser de fato
Mas, veja, isso tudo não é alegre?
Essa carta é para se lembrar de mim
É para lembar da família
É para lembrar de amigos
É para rir pensando nas tardes de sábado
É para sentir-se bem pensando na noite
Pensando nas vozes que você ouviu
Por favor, me diga, isso não é alegre?
Porque se não for preciso de sua ajuda!
Se não for, você deve me procurar
E me perdoar
E se tudo não passar de um momento engraçado
É um momento feliz
E se há algo de ridículo, você sabe
É da juventude

Veja! Como sou tolo!
Veja como não consigo dizer o que quero!
Essa carta é para pedir perdão! Perdoe-me!
E perdoe os outros, perdoe-os por mim!
Veja, eu te amo desde agora
Não precisa me responder
Mas, se o coração pesa
Aceite meu conselho
Escreva o que lhe resta, escreva o que não é do meu tempo
E peça perdão

Pascarujo Mijador
Janeiro/2002

terça-feira, 9 de março de 2004

Estrelando: Muchochos e Rabissacas

Apesar dos muitos estudos a despeito dos Grand-Foieurs e de seus hábitos tão peculiares, poucos foram os avanços em busca da compreensão destes seres. O mais provável é que sua razão de existência, seus objetivos e seu comportamento diante os eventos de seu habitat se dêem exatamente como o de qualquer outro ser vivo, embora alguns de seus gestos apontem divergências em relação à expectativa natural, dando margem a hipóteses mais extravagantes.
No entanto, devido ao fato dos Grand-Foieurs serem os hospedeiros naturais de diversas espécies, dentre às quais podemos citar principalmente as rabissacas e os muchochos, muito do seu comportamento se deve às influências destes, que procuram controlar ao máximo seus enigmáticos lares.
Os hóspedes dos Grand-Foieurs possuem seus conflitos internos e suas divergências políticas e culturais, no entanto, em geral, sempre juntaram forças para a preservação dos grandões, já que dependem destes para sobreviverem. Assim, em 1904, foi montado em Zurique, o comitê internacional para o progresso dos hóspedes dos Grand-Foieurs (ICPGOG – International Comitee for the Progress of Guests on Grand-Foieurs), formado inicialmente pelos muchochos e rabissacas, este comitê definiu responsabilidades para cada um de seus componentes de acordo com suas possibilidades, tendo como objetivo precípuo, a boa conservação da espécie dos Grand-Foieurs, e em segundo plano, de cada um dos espécimes.
Os muchochos, devido ao seu peso, lentidão e maior capacidade intelectual, se incubiram das atividades de Inteligência InterGrand-Foieur, das atividades de apoio ao equilíbrio emocional dos Grand-Foieurs, do Planejamento estratégico, e da administração de recursos do comitê. À comunidade das rabissacas, ficaram atribuídas as atividades de suporte à integridade física e psicológica e de apoio à perpetuação da espécie dos Grand-Foieurs. Estas duas comissões requerem quase que 80% dos recursos do comitê, ocupando praticamente todas as rabissacas.
Os muchochos têm sempre que ser bastante esforçados e tolerantes para com as rabissacas, pois estas frenéticas e apalermadas criaturinhas ficam muito agitadas e destrambelhadas ao menor sinal de medo ou possibilidade de acasalamento grand-foieuriano, tentando nestas horas conduzir o comportamento dos grandões. Nesses momentos, os muchochos vêem todos os seus trabalhos de planejamento estratégico anulados, as rabissacas desobedecem a todas as suas recomendações cautelosas, fatigando-se e desgastando-se descontroladamente. Estatísticas mostram que são nestes momentos que ocorrem os maiores danos aos Grand-Foieurs, principalmente se as rabissacas estão sob algum tipo de efeito estimulante ou entorpecente. Assim, enquanto as rabissacas não param, os muchochos torcem os dedos e fazem orações para que as ameaças aos Grand-Foieurs se cessem, ou para que o acasalamento seja bem sucedido e findado.
Quando as rabissacas baixam o facho, por cansaço, impossibilidade de acasalamentos ou ausência do medo grand-foieuriano, os muchochos podem trabalhar melhor, interferindo de maneira mais construtiva no relacionamento entre os Grand-Foieurs e possibilitando ações que, embora aparentemente desconexas, servirão para, não somente aumentar as possibilidades de acasalamento futuro e reduzir as possibilidades de agressões externas e com isso otimizar a ocupação das rabissacas, mas também para melhorar a quantidade e qualidade de recursos materiais dos Grand-Foieurs, pois como se sabe, os muchochos são muito cheios de luxos e adoram quando os Grand-Foieurs se banham no mel, se alimentam de essências raras e se submetem às sinfonias dodecafônicas.

terça-feira, 2 de março de 2004

Equilíbrio Instável



O que não é de plástico, é de vidro...
Tudo quebra, resseca, fatiga, risca, parte, funde
Resta aproveitar o sólido finito das coisas, das pessoas...
Resta aproveitar a transparência do vidro
Comemorar a flexibilidade do plástico
Evitar tensionar o vidro, aquecer o plástico

É de vidro a mente equilibrada e de plástico o corpo são e belo
É de vidro a ilusão do amor, e de plástico a transcendência da fé

O que quero, o que sinto, o que penso...
resta a dúvida, plástico ou vidro?


O primeiro parágrafo


Dedico estes escritos ao primeiro verme que deliciou-se com a carne podre, alcoólica e emaconhada do meu cadáver, se é que sobrou algum álcool ou maconha no meu corpo após ter me convertido em drugue-caixeiro-viajante, ser asqueroso, de hábitos insalubres e aspecto repugnante, com aquela carapaça negra sulcada, fixamente arqueada entre as patas esquizofrênicas, que outrora, enquanto pernas, haviam atingido o êxtase maior ao roçarem nas coxas trêmulas e inexperientes da mais bela virgem que já tive o prazer de ver padecer em meus braços, cujo sangue era viscoso perfume e gemidos eram a mais harmônica e adequada sinfonia que já foi ouvida em um ato de sublime amor.

Ça y est!
Morphotopie, blargh!